Janeiro de 1964.
João Goulart era o Presidente da República, sucedendo Getúlio Vargas. Vovô Marcírio padecia e definhava de um câncer gastro-intestinal.
Em consulta com o médico cirurgião e político uruguaianense Hesnard Cunha, muito seu amigo, é recomendado por ele a consultar com equipe de cirurgiões do Hospital Oswaldo Cruz de São Paulo.
Em Porto Alegre, moravam os irmãos Alfeu, José e Cecy. Sabedores do estado de saúde de Vovô, descobriram que este se hospedara no Hotel Glória, e foram visitá-lo. Tentavam demovê-lo da ideia de viajar sozinho e sem conhecer ninguém para o tratamento em São Paulo. Por fim, mesmo contrariado, Marcírio permite que tio Alfeu o acompanhe na viagem aérea até São Paulo.
No Hospital Paulista Oswaldo Cruz, vovô Marcírio é operado em 06 de janeiro de 1964, ficando debilitado e vindo a falecer 6 dias depois, no dia 12 de Janeiro.
O tio Vicente havia ficado cuidando dos negócios tanto da Fazenda Santa Ignez como da Fazenda Baiana, em Uruguaiana. Tio Alfeu se sentia impotente perante o monopólio funerário da cidade de São Paulo, que ante o falecimento de alguém que julgavam de posses, não permitiam o translado do corpo, exigindo o sepultamento na cidade de São Paulo.
Hospital Oswaldo Cruz |
Tio José, então funcionário do palácio do governo em Porto Alegre, vai à São Paulo, com recomendações do Governador Ildo Meneghetti ao Prefeito de São Paulo e ao Governador, Drº Ademar de Barros. A tentativa se mostrou frustrada. O atestado de óbito já fora liberado para o sepultamento na cidade de São Paulo.
Como última cartada, tio Vicente, em Uruguaiana, tem grande ideia: através do Quartel General da Cidade, faz contato com o então Presidente do Brasil e grande amigo de vovô em Brasília: Jango!
Jango, comovido, prontamente determina a liberação de um avião da F.A.B. de Brasília com destino à Base Aérea de São Paulo, a fim de transladar o corpo para Alegrete. O piloto-chefe desta operação militar, natural de Itaqui e também piloto particular de Jango, era o Tenente-Coronel Aviador da Aeronáutica Alfeu Monteiro.
Tenente-Coronel Alfeu Monteiro |
Sob o comando de Alfeu, a equipe militar parte de Brasília.
Mas a odisséia ainda não acabara.
Era preciso convencer o motorista do carro fúnebre a mudar os planos, já que o sepultamento estava autorizado para São Paulo. Tio José, ardilosamente, propinou o motorista, que a caminho do sepultamento, desvia o carro para a Base Aérea Paulista. Lá, os militares já o aguardavam, embarcando o caixão no vôo e partindo para Alegrete, com escala na Base Aérea de Canoas, tendo a bordo os tios Alfeu e José.
Antes do sepultamento, o corpo foi velado na Residência do tio Alfeu Cavalheiro.
Ironia do Destino
Três meses após o episódio, em 31 de março de 64, o golpe militar derruba Jango da presidência.
Sabedor do golpe iminente, Jango havia mudado os principais comandos militares dias antes, substituindo o brigadeiro da Base Aérea de Canoas pelo comandante da missão que trouxe o corpo do vô Marcírio de volta à Alegrete, Tenente-Coronel Alfeu Monteiro.
Na revolução pela legalidade, liderada na capital por Leonel Brizola, houve invasão dos golpistas na Base Aérea de Canoas. O Tenente-Coronel Alfeu resistiu, defendendo a constituição e a legalidade. Portando apenas uma pistola calibre .32, foi covardemente metralhado, sem chance de defesa, pelos golpistas.
* EDITADO:
ERRATA 1: O presidente João Goulart sucedeu Jânio Quadros, que renunciou após sete meses de governo, sendo sucedido interinamente por Ranieri Mazzilli, enquanto Jango retornava às pressas de uma viagem à China.
ERRATA 2: Segundo consta, Tio Jupyr (esposo de Tia Amélia) também participou da viagem que trouxe o corpo de vovô para Alegrete
Emocionante, histórico e de grande valor a coragem dos tios José, Alfeu e Vicente.
ResponderExcluirComovente...., o que é um homem além de sua riqueza??
ResponderExcluirFeliz daquele que na hora derradeira ainda mantém na sua espalda os filhos e mulher amada e algum amigo. Um fim triste, amenizado por filhos dedicados(Vicente, José, Alfeu e Cecy).
Sou a penúltima filha do casal MARCITIO/ECILDA.
ResponderExcluirná época de seus últimos dias e falecimento estava passando férias na fazenda sta. INÊZ. Papai ficou muito feliz com minha visita.Eu morava em Quaraí porque meu marido estava servindo lá. Nunca me constou que a CECY tivesse participação nesse episódio.Apenas ela se encarregou de "educar os menores". Alfeu, Eugênio, Marcirinho, ECILDA, Eu e Madalena sofremos muito com as surras que levamos dela..essas passagens ninguém conta..Vamos colocar na história dos Brites só as verdades.Até meu casamento não presenciei nada que pudesse a endeusar tanto.Ser carrasco não da diploma de doutorado pra ninguém.
Ainda não me inscrevi no blog porque sou básica na internet e meus filhos ainda não puderam me ajudar.Tenho fotos também, mas não sei colocar.
Errata: O presidente João Goulart sucedeu Jânio Quadros, que renunciou após sete meses de governo, sendo sucedido interinamente por Ranieri Mazzilli, enquanto Jango retornava às pressas de uma viagem à China.
ResponderExcluirEmbora com 9 anos, quando Ele faleceu, não o conheci. Meu pai Ulysses tinha dificuldades com Ele!
ResponderExcluirMas para mim, o importante é o LEGADO (palavra tão em moda devido a Copa do Mundo), pois tenho muito orgulho de ser Brites, e sentir esta amizade e carinho tão grande por todos os
Primos, tios e agregados....Esta afetividade é nossa "marca registrada"
Concordo com o querido primo Ubirajara eu não conheci o Vovô Marcírio,conheci a Vovó e convivi pouco com ela,meu pai também teve dificuldades com eles pois foi morar com outro casal quando pequeno mas ajudou o pai dele na hora do translado e não vou alimentar revoltas contra ninguém ,porque o que me interessa é o carinho e a amizade entre nós descendentes que não temos culpa das falhas dos nossos antepassados e não somos santos e nem temos pretensão para tanto,Deixo meu beijo e abraço e to fazendo esforço para ir ou mandar minha representante Andrea beijoooooooooo Élia Mara Pires
ExcluirConcordo plenamente Bira. Todos sabemos das agruras que os filhos e alguns netos passaram. Mas isso não tira o mérito da história da família.
ExcluirEu era gurizote, tinha 12 anos quando o vô morreu: lembro-me de, na casa dos tios Jupir e Amélia, termos conseguido contatos e notícias do Vô Marcírio, de sua hospitalização e cirurgia, através de um radioamador vizinho. Ficamos horas em volta daquele chiado do rádio, estabeleceu-se uma rede de contatos com radioamadores de São Paulo e conseguimos notícias sobre as condições de saúde do Vô. Era a rede social de então...
ResponderExcluirQuem é Rebeca Brittes Pahim? É da família? Que estranho!
ResponderExcluirToni, bem isso, a rede social não presencial da época era possível pelas ondas de rádio. Muito bem colocado!